18 dezembro, 2010

Como é feita uma Crítica ? Quais as suas bases?

Finalmente assisti ao filme e arrisco uns palpites. Não vou afirmar que o filme é isso ou aquilo – a gente conhece os autores, roteiristas e diretor, e sabemos que são democratas -, mas com certeza o filme não se posiciona criticamente em relação aos valores implícitos no comportamento do seu protagonista e da corporação a que pertence.
Vamos ver se consigo me explicar. Em primeiro lugar: a construção dramática. O Capitão Nascimento é apresentado indubitavelmente como um herói romântico. Muita gente pensa que herói romântico é aquele personagem que age segundo os códigos morais, quer dizer, seria o bonzinho, o certinho.
Logo, Nascimento estaria longe disso, já que é violento, autoritário, age à margem da lei, ameaça a mulher, etc. Mas não é bem assim.  A melhor definição de herói romântico que conheço (perdoem não lembrar com precisão de quem é, talvez do Lukacs) diz que “é um personagem degradado, vivendo num mundo degradado, lutando por  valores autênticos”.
O Nascimento se enquadra à perfeição nisso aí, concordam?  Ele vive numa sociedade corrupta, infestada de facínoras, vagabundos, sustentados por  burgueses drogados e hipócritas, cercado de colegas  policiais desonestos, etc.
Ele, por sua vez, está longe de ser santo, age de modo brutal, à margem da lei, não tem respeito pela vida dos inimigos, etc, mas suas motivações o diferenciam. Ele aspira e luta por valores éticos, morais e autênticos. Esta aspiração o resgata e faz com que a platéia se identifique com ele, porque ela tem exatamente o mesmo desejo: o bem da sociedade, a salvação das crianças, etc.
Os métodos do Nascimento são apenas um mal necessário. Ainda bem que existe o Bope e os nascimentos para fazerem o serviço sujo pela gente. O comentário de uma conhecida minha foi exemplar: pelo menos fiquei sabendo que existe uma parte da polícia que não se corrompe...
Não se posicionando criticamente frente ao universo que apresenta, muito pelo contrário, valendo-se das técnicas dramáticas do envolvimento, inclusive criando a catarse final do público (o tiro na cara do Baiano, anteriormente apresentado como um monstro assassino e odiento, é uma “justa” compensação para a platéia, ninguém há de negar), o filme abre espaço para a identificação do espectador com os protagonistas e a aprovação dos seus métodos como única alternativa contra o mal.
Mas o filme também tem colocações de caráter ideológico, externas à dramaturgia, bastante incômodas. Por exemplo, o soldado Matias – cuja história no filme é um ritual de iniciação, digamos, à realidade perversa do nosso Brasil  – vai estudar Direito.

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